Exposição e riscos

Quem se expõe está sempre sujeito, ora aqui está uma verdade, verdade da qual tenho que me lembrar constantemente. 

Apesar do que muitos possam pensar sobre mim, reservo-me um pouco no muitos e pensar, por diversas razões, eu sou uma pessoa muito tímida e introspetiva, digamos, demasiado até. A mim não me importa a crítica, mas a jornada que fiz, o que tentei – porque quando se tenta, erra-se. Mas se errar ou falhar ao menos tentei!

Não há esforço sem erros e deceções, se falhar, falhei mas ao menos trago na minha consciência o que tentei, a minha vivência, os meus caminhos e o demonstrar que a vida não é só colorida e perfeita mas também não é tão má quanto muitos pensam. A vida não se trata de vencer ou sair vencido, mas sim, conseguir compreender que todos nós atravessamos períodos incertos, que as nossas emoções não são opções, temos que ter em conta a vontade de assumir riscos e nos comprometermos. Temos que falhar várias vezes para conseguir sentir que conseguimos. Mas ao falhar as várias vezes, vamos encontrando coisas que vamos dando valor.

Muitas vezes quando pensamos que só podemos fazer determinada coisa quando estivermos preparados, o tempo passa e perdemos oportunidades de as fazer, não exploramos determinados talentos e contribuições que podemos dar, aos poucos – só vemos o fim e não o percurso. Quando queremos ser perfeitos e não assumir as nossas fraquezas e fracassos perdemos muito da nossa vida. Pequenas conquistas, novas experiências sem medo de se falhar é uma porta aberta para a criatividade, aceitação e amor. Porque conseguimos entender que a vida não é um mar de rosas mas sim uma oscilação de sentimentos. No fim, compreender que passamos por eles, enfrentamos e demos o nosso melhor, aí reside a conquista e não nos dececionamos com quem nos tornamos.

A vida é composta de experiências que envolvem riscos e qual é o mal falar deles? Ser alvo de críticas? Claro, que sim, o mundo está cheio de pessoas que preferem criticar e invejar do que se expor através dos seus fracassos. E se me importam as críticas que os outros fazem sobre mim? Claro que sim, sou humana. Mas ao menos estou exposta e sei que por trás da crítica reside muita coisa que não é para mim, mas sim aquilo que as pessoas observam e se foge ao critério do normal, é alvo de crítica. Aviso desde já que a minha maior crítica sou eu própria e, assumo isso. Correr riscos é expor.

Nos dias de hoje, é muito mais fácil julgar e então, as redes sociais são o grande palco para esses julgamentos tomarem voz. Quantas vezes deixamos de fazer o que queremos por medo de julgamentos? Por vezes escondemos o que de mais belo temos em nós. Todos passamos por isso, todos! Sem insegurança não arriscamos.

Estamos numa sociedade em que o demonstrar dos fracassos é considerado pejorativo, a questão é que muita gente não vê que só através do errar, fracassar e expor é que nos tornamos mais humanos, pelo menos, mais realizados. Tendo consciência dos nossos medos e expondo, sinto que sou corajosa e não tenho vergonha de os expor, desta forma abraço-os e ando lado a lado com eles. 

Talvez o melhor seja falar, expor, dizer – ao menos tentei – sem entrar em conflitos, ser verdadeiro. Quantas vezes estamos mal num emprego e vemos que os nossos colegas também estão, mas em vez de se falar com o patrão, fala-se mal dos colegas. Como só eles tivessem defeitos e o problema residisse em outros, se calhar o problema é comum mas por não querermos demonstrar nossas fraquezas e receios refletimos nos outros.

Dar valor às mais pequenas coisas do dia a dia, às nossas pequenas batalhas diárias, tentando compreender como funcionamos é melhor que criar barreiras neste mundo de perfeição. Perfeição não existe e imperfeição não é fraqueza.

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30 thoughts on “Exposição e riscos

  1. Olá Irina,
    A sua reflexão vez-me lembrar estas palavras de Fernando Pessoa.

    “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito”.

    1. Sou uma delas Pedro! Muita dificuldade mesmo. Creio que todos passamos por isso. Mas ponho-me depois a pensar. O que é fracasso? Isto levanta-me muitas questões. Obrigado pelo comentário.

  2. Muy bien pensado y escrito Irina y la foto esta estupenda! Un saludo de Valencia,
    FBC

    1. Francisco quer que saibas que é um gosto enorme em te ver aqui. Desculpa andar um pouco mais ausente, tenho muita estima.
      Um abraço forte meu vizinho amigo.

      1. Igualmente Irina, un abrazo y me alegro mucho que estes bien y trabajando mucho.
        Francisco

  3. Se as relações sociais não são fáceis, connosco próprios por vezes ainda são mais difíceis. Mas a vida vai-nos ensinando a lidar com isso tudo, seja através do erro, das aprendizagens, dos contratempos, das surpresas etc, etc.
    Sabemos que ninguém é perfeito e que todos dias todos nós erramos, por excesso ou por defeito.
    E é verdade Irina, há muita gente que não consegue olhar para si, mas apenas para a forma como os outros agem. E criticar, depreciar, etc. Não percebem que a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro é uma das melhores formas de nos conhecermos. Com humildade.
    Bj e força nessa constante procura de respostas e equilíbrio! Como a vida bem nos merece, aliás.

  4. Difícil lidar com nossas falhas… normal, faz parte. Com o tempo vamos melhorando rsrsrs, aceitando. Empatia! Adorei sua reflexão Irina. Abraços

  5. Adorei, Irina!
    Por que é tão difícil algo que deveria ser natural, não é?
    Também acho muito difícil, mas seguimos tentando e aos poucos melhorando 😉

    1. Gabriela, não sei.
      A única explicação que vou observando é o viver de aparências e quando aparentamos e não vivemos, creio que vamos pensando que a nossa forma de viver (com defeitos) está errada. Estamos num período que mostrar nossas fraquezas é defeito, muitas vezes isso leva a graves problemas mentais e psicológicos nas pessoas. Não existe manual de instruções para viver, a única forma simplificada que vejo é a comunicação e mesmo essa, é necessário ter um pouco de empatia e humildade para se conseguir ver os outros. Mas, que sei eu? Reflexões surgem de mergulhos profundos a nós próprios, algo que na minha idade começo a fazer. Aceitar.
      Um abraço forte e um dia feliz para si.

      1. É tanto que cada dia que passa o número de pessoas ansiosas e com depressão só aumenta, né?
        Acredito como você, comunicação e empatia são o caminho.
        Grande abraço e que seu dia também seja feliz 😉

      2. Enquanto se continuar a cultivar uma sociedade de pessoas narcisistas (atenção que quando falo assim não é no sentido de que não devemos olhar para nós, mas depende do olhar que temos sobre nós para depois conseguir sentir que os outros também são válidos e não só o nosso caminho).
        Esta forma de ver que “tens que ser o melhor que…” trás sem dúvida inúmeras patologias. As aparências é fruto disso mesmo. Enquanto não se for à causa nunca se conseguirá ver ao redor.
        Comunicação deveria ser assertiva quando não se entende pergunta -se, sem julgar e comparar, para se chegar a algum caminho. Comunicação aliada a uma compreensão.
        Um dia feliz Gabriela. Abraço forte nestes dias complicados pelos quais atravessam o mundo.

  6. Que lindo Irina. Que vulnerabilidade a sua trazer coisas tão pertinentes e que afligem a todas. Claro que uns poucos outros mais. seu texto me lembrou uma leitura que tive ontem. Que dizia que não existe equilíbrio, e sim a fluidez.

  7. Belo texto! Demonstra uma vivência real, uma absorção humana. Só para citar, acho que compactua com o assunto:

    Se você é capaz de levar em consideração, que a felicidade implica em sobreviver ao sofrimento e não desabar por completo, você encontra a chave do tesouro.

    Que exerçamos nossa plenitude! Beijo Irina.

    1. Acho que disse tudo Bruno, depois de encontrar essa chave é fazer o nosso melhor. Sabendo sempre que podemos ter avanços e recuos, importante e nos lembrar.

      Espero que estes dias mais cinzentos que atravessam passem em breve. Espero profundamente isso. Só me resta lhe enviar um abraço de compreensão e com carinho Bruno. Muita força!

  8. Ao longo da minha vida acumulei tantos fracassos, cometi tantos erros que um dia dei um stop e decidi transformar tudo que deu errado em experiência de vida e comecei a fazer do trabalho o meu melhor para quando fosse o momento de fazer o que sempre desejara o fizesse bem. É difícil transformar o fardo das críticas negativas, dos erros, dos fracassos em experiência? Sim, com certeza. Todavia, em algum momento estaremos em diálogo interno e acertaremos nossas próprias contas e passaremos a conviver melhor conosco mesmos, com a vida, com os outros, com o trabalho e a consequência: estaremos livres para o que realmente amamos fazer.
    Minha admiração sempre, Irina é muito feliz por te encontrar e conversar contigo através da tua arte.

    1. É exatamente isso Fernando, a vida traz-nos uma visão muito ampla das coisas. O que são erros? O que são fracassos? Para nós? Para os outros?
      Costumo dizer que a minha maior critica sou eu, e é verdade. Porque se olhar para dentro e possuir esse dialogo interno ao qual se refere, resolvermos e acertarmos as coisas conseguimos ter uma visão mais ampla da vida. Sem frustrações, sem emoções negativas – procurando um entendimento.
      Gosto de pensar que a vida não é perfeita, mas se caminharmos nela com leveza e realmente aprender com as nossas experiencias somos um pouco mais plenos.
      Lembrou-me uma frase de Picasso: “É preciso ter muito cuidado com o que se faz, pois é justamente quando nos julgamos menos livres que estamos a ser mais livres.”
      A admiração é mutua os seus pensamentos e suas visões fotográficas são humanas, sentidas, vividas e isso é belo de se ver e sentir.
      Um abraço muito grande e um dia feliz, Fernando.

  9. É isso! As imperfeições assustam muitos, mas são elas que nos unificam, que nos fazer ser quem somos.

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