Gentes do Mar.

“Eu agora faço este biscate, para daqui a pouco, quando a maré vazar, e já não houver gente a ir desta margem para a outra, ir para o mar apanhar o meu almoço e jantar para amanhã que vai estar chovendo”.

É assim que se fala e vive na costa do Algarve. Os pescadores aproveitam o tempo sazonal para fazer uns lucros a transportar pessoas na margem da Ria Formosa, de Cancela Velha para a ilha que se forma em frente. A vida da gente do mar não é fácil e se por vezes pensamos que muito do que fazemos se torna caro, existe um outro lado da moeda que poucos veem.

Na Cancela Velha, ele dava uns concelhos:

Ria Formosa, Cancela Velha, Algarve, Portugal.

“Daqui a pouco já conseguem passar a pé de uma banda à outra e eu, vou apanhar peixe para o mar. Se vierem entretanto, está ali o meu telefone. Estão a ver aquelas estacas além? É por aí que vão quando a maré estiver mais vazia. Muitos arriscam-se a tentar atravessar e ficam lá no meio porque a ria tem fundões, é preciso ter cuidado!”

Olhávamos para as estacas ainda meio submersas no meio da ria e questionávamo-nos se alguma vez aquela água ia vazar toda para se puder passar a pé. Entretanto observávamos um casal retido no meio da ria.

“Estão a ver aqueles além? Já ficaram lá no meio.”

O pescador começa a fazer sinais ao casal e grita “Oh! Está muito cheia, voltem para trás, ainda é perigoso, não se arrisquem, voltem para trás!”

Claro que sim, quando olhamos para o preçário a dizer que cada travessia custa 1,50€ por pessoa, para se atravessar poucos metros com maré baixa, questionamos se valerá a pena investir esse dinheiro.

“Tá a ver aquele barco além, só atravessa quando estiver cheio de gente. Olhem que podem ficar ali à espera uma hora que só quando ele tiver o barco cheio é que ele faz a travessia. Eu cobro este valor, independentemente se tenha o barco cheio ou não, não tem lógica as pessoas estarem tanto tempo à espera para atravessar para a outra banda.”

Sim, a travessia vale a pena e, no Algarve, sempre apanhei pessoas impecáveis, prestáveis e honestas a fazerem vida do mar. Inclusive tenho amigos que vivem lá uns, filhos de pescadores, outros pessoas que foram viver para lá devido ao modo de vida.

Os pescadores aproveitam o tempo sazonal para conseguirem fazer “uns lucros” para poderem viver no inverno. Assim transformam os seus barcos de pesca, em barcos para passeios turísticos ou travessias. Quem visita o Algarve no Verão e vê tanta gente nas praias e por todo o lado, não observa o oposto do Algarve, o Inverno.

No inverno esta zona fica quase que deserta, apenas lá reside os seus habitantes, pontualmente visitada por um ou outro turista. Logo, quem lá vive, tem que que conseguir dinheiro no Verão para viver no inverno. Para tal, fazem todo o tipo de trabalhos possíveis, seja transportar turistas, porem suas casas para alugar, trabalhar em cafés e restaurantes, vender peixes e marisco que apanham, etc..

Confesso que é uma zona do país que me atraí muito, gosto das praias, da zona, das pessoas, da calma, e inclusive desta dualidade de Verão intensivo e cheio de gente e Inverno, que não se passa nada de especial. Creio que vai um pouco de encontro ao meu estado de espirito de vida.

Embora não seja nada fácil lá viver, os hospitais e serviços encontram-se a grandes distâncias, para uma zona tão grande, possui pouca cobertura. Só há poucos anos é que começamos a ver aparecer shoppings, e apenas nas “grandes” cidades (não existem cidades grandes no Algarve). É uma zona que vive do turismo fundamentalmente. Contudo, é um local de belezas únicas.

O post de hoje foi um pouco sobre as nossas gentes do mar, em especifico da zona do Algarve, abrangendo um pouco a forma de falar, e postura das pessoas. Contudo, creio que não saiu exatamente como o queria escrever, às vezes temos momentos e momentos, neste dias tenho estado num desses momentos… momentâneos…

Uma excelente semana para todos!

9 thoughts on “Gentes do Mar.

  1. Irina, gostei muito de ler a sua reflexão sobre o mar do Algarve e das pessoas que lá vivem durante o inverno. Captou o sentido e a essência deste lugar que os turistas raramente apreciam. Entramos na estação das brumas e da chuva. O sol ainda brilha – noutros lugares. O sol também faz as suas férias mas depois volta.
    Eu moro muito pertinho do Lago Ontário. Parece mesmo um mar. Gosto de vê -lo nos dias cinzentos de chuva e vento quando as ondas parecem mesmo como as do próprio mar. Ainda é cedo da manhã aqui, pois acabei de acordar e visitar as novidades na minha caixa de email e encontrei a sua bem-vinda para esta semana. Não perdi tempo para ler e partilhar as minhas impressões consigo. Foi bom começar a semana desta maneira. Uma boa semana para si. Abraço, Emanuel

    1. Muito obrigado Emanuel.
      Também foi gratificante ter acordado com o seu post com as arvores mais coloridas, por cá. Sim, temos que nos habituar que o sol nesta altura tira as suas férias por este lado, e se encontra a brilhar, noutros. Mas confesso que me dou bastante mal com o Inverno, afeta-me imenso.
      É maravilhoso poder acordar e ver o mar, ou o oceano, acho que dá um outro tipo de energias, mesmo as suas cores acabam por ser diferentes. Não sei, mas o facto de estar perto da agua traduz-se em algo mais calmo para mim. (aqui ainda tenho que andar um pouquinho para poder ver o rio ou oceano, apesar de estar perto, é relativo).
      Um abraço para si e uma excelente semana 😉

  2. O Algarve é o lugar da minha infância/juventude e a região para onde eu e o meu companheiro gostaríamos de ir viver quando eu me reformar…pois tem tudo o que gostamos e muito mais!
    Não concordo muito com a ideia que fica deserto no Inverno. Em tempos normais, tem algum turismo durante todo o ano e são muitos os estrangeiros que já lá vivem, por ter bom clima e ser barato para eles. Mas obviamente é sempre uma região que vive do turismo. E a vida dos residentes como a situação que descreve depende muito disso.
    Se estas palavras tivessem sotaque….a Irina iria ouvi-las ainda com um sotaque algarvio que quarenta e cinco anos de Lisboa ainda não fizeram desaparecer. Gosto de dizer que as minhas raízes (não de nascimento) ainda continuam lá…
    Gostei deste post sobre esta bela região!

    1. Quando me refiro que fica “deserto” não é propriamente sem gente, é com muito menos movimento, sim existem bastantes estrangeiros a viver lá. Eu, gostaria muito de ir para lá viver, sem dúvida. Acho que era um local que me daria muito bem.
      A propósito da pronúncia, Dulce, vim para aqui para o Norte, tinha 7 anos, estou uma autêntica nortenha embora continue sem aderir ao vocabulário um pouco mais pesado que aqui se usa (sabe ao que me refiro) e também não troco os “b” pelos “v” e vice versa. 😊
      Mas gosto muito mas mesmo muito de todos os sotaques e palavras diferentes que usamos por todo o nosso Portugal, é tanta diversidade, acho realmente muita piada (no bom sentido, não na crítica 😉).
      Adoro a zona sul do nosso país, bem, sou alfacinha, gosto do país inteiro.
      Beijo grande.

  3. Eu já pensei no Algarve no Inverno, Irina. A minha conclusão é que deve ser triste, e até mais triste no Inverno do que outras regiões mais acostumadas.
    Aqui em casa costumo dizer que a costa belga é uma mistura de Alentejo e Algarve. Aliás, tudo q vc relatou sobre o Algarve bate com a costa daqui.
    Continuo a ler o livro (lembra?). Não está a ser a leitura no ritmo q eu desejava, mas estou a ler. Eu já li 2/3 e espero que ele toque no tema traumas.

    1. Não é um local sem vida, a vida ainda lá está, mais recolhida como em todo o país. Mas são muitos estrangeiros que lá se encontram a residir também. Eu gostava de lá viver (porque gosto do tipo de ambiente, Verão, com algumas (bastante) pessoas e Inverno, muito mais calmo), mas estar perto do oceano ou mar, dá-me tranquilidade. Aí onde reside a água deve ser muito fria, não? Quando começa a vir este tempo imagino que faça muito frio na zona costeira.
      Quanto ao livro, lembro sim, assim essa temática diretamente não sei se trata. Espero que esteja a gostar. Um abraço grande, e um beijinho. Boa semana.

  4. Nosso querido Algarve, e como essas expressões me fizeram reviver bons tempos. Esse falar algarvio, belíssimo!

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